terça-feira, 22 de julho de 2008

Bragança é o terceiro município a receber o Circuito Cultural Paraense



Bragança será o terceiro município do Pará a receber as ações do Circuito Cultural Paraense, realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e órgãos de cultura como Fundação Cultural Tancredo Neves, Fundação Carlos Gomes, Fundação Curro Velho e Instituto de Artes do Pará. A ação acontece de 23 a 27 deste mês e promove o intercâmbio e a troca de experiência da Região do Caeté com todo o Estado. Além de mostras culturais, cursos, oficinas e workshops direcionados aos diversos segmentos culturais da tradição popular, o público ainda poderá conferir o resultado de diversas ações preparatórias. Estas são ações que pretendem fomentar o trabalho de capacitação dos artistas locais, socialização dos ofícios e comercialização de obras e produtos. De acordo com o Secretário de Estado de Cultura, Edílson Moura, é necessária uma ação pública que tire do anonimato artistas populares das regiões paraenses. "Estamos realizando a terceira edição do Circuito sempre com o objetivo de mostrar uma síntese dos bens culturais paraenses e os saberes e fazeres dos povos que habitam esse imenso território amazônico, daí a importância de ter na programação as mais diversas linguagens artísticas", afirmou o secretário. O modelo de desenvolvimento que é apresentado no Circuito Cultural tem demonstrado resultados positivos principalmente nas regiões do Tocantins e do Araguaia, por onde a ação já passou. "É missão do Governo do Estado valorizar a economia da cultura que fortalece os movimentos sociais ligados à cultura popular, já que o Circuito Cultural Paraense deve resultar em geração de renda aos produtores culturais e, também, tirar do anonimato os diversos artistas populares. Estamos apenas fazendo valer o direito do povo. É nossa obrigação", reiterou Edílson Moura.
Para Pedrinho Callado, coordenador do Circuito, ações como esta valorizam o artista local. "Esta é uma forma de dar oportunidade e acesso às expressões de identidade, como a Marujada, além de outras expressões artísticas, como cinema, artes cênicas", afirma. "A idéia é o artista se reconhecer como cidadão paraense e da Região do Caeté", acrescenta Pedrinho. Para ele, o trabalho da Secult com as prefeituras, secretarias de cultura, associações e outros, amplia os meios de circulação e divulgação do que é produzido e permite que o artista tenha mais espaço para criar. "Estes apoios são fundamentais porque quem cria a cultura é o cidadão", completa Pedrinho Callado.
I Festival de Música da região do Caeté
No dia 24, de julho acontece o I Festival de Música da Região do Caeté, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura. Foram 12 músicas selecionadas, entre 52 composições inscritas, divididas igualmente em seis concorrentes de todo o Pará e seis da região do Rio Caeté, além de premiar o melhor da região. "Esta maneira de classificar e premiar é uma forma de valorização da cultura daquela região, incentivando talentos e estimulando a criação de espaços democráticos", afirma Pedrinho Callado, coordenador do Festival.
A seleção das músicas foi uma etapa bastante equilibrada, em função do alto nível das composições. Os critérios foram melodia, harmonia e letra. "O júri ficou com uma árdua missão devido à qualidade das músicas", ressalva Pedrinho. O júri foi composto pelo músico Fabrício dos Anjos, pelo letrista e cantor Renato Lú, compositor Marcos Campelo e pelo músico Pedrinho Callado. Para Marcos Campelo esta seleção foi uma grata surpresa "notamos um interesse e um cuidado maior dos artistas locais em apresentar propostas diferenciadas e bem elaboradas para o Circuito. Isto pode ser retratado, principalmente, na qualidade das composições e diversificação de estilos", explica Campelo.
O Festival acontece no dia 24 deste mês, incluso na programação do Circuito Cultural Paraense, no Largo de São Benedito, em Bragança, a partir de 20h.
Rabequeiros se apresentam no Circuito Cultural de Bragança
Com a proposta de promover o intercâmbio e a troca de experiência da Região do Caeté com todo o Pará e, ainda, cultivar as tradições populares, o Circuito Cultural Paraense vem nesta edição com um ícone: a rabeca, principal instrumento usado na tradicional Festividade de São Benedito, por mestre Zito, desde 1978.
Dentro da intensa programação do Circuito, merecem destaque as apresentações dos dois únicos grupos de rabecas do município, que abrem e encerram a programação. Os rabequeiros se apresentam na programação noturna denominada Circuito dos Sons, que acontecerá todos os dias, a partir das 19 horas no palco armado no Largo da Igreja de São Benedito.
Na quarta-feira (23), às 19h30 se apresenta o grupo Rabeca de Bragança, que pela segunda vez será acompanhado pelo músico Toni Soares. Já no domingo (27), às 21h será a vez da Orquestra de Rabecas e Sons do Caeté. A Rabeca (também chamada de sanfona em Portugal) é um instrumento de origem árabe tendo-se notícias de sua utilização desde a Idade Média. Instrumento de arco, que soa por fricção é uma espécie precursora do violino só que de feitura popular. De timbre mais baixo que o do violino, seu som fanhoso é sentido como tristonho. O tocador recosta a rabeca no braço e no peito, friccionando suas cordas com arco de crina, untado no breu. Esse instrumento é utilizado no país em manifestações populares e religiosas desde os remotos tempos da invasão portuguesa no Brasil. Na região norte, em Bragança, a rabeca é o principal instrumento musical da Festividade de São Benedito. Músicas como retumbam, chorado, xote, mazurca e contra-dança fazem parte do repertório da festa, mais conhecida pelo nome de Marujada. Ultimamente, é difundida por músicos populares que a trouxeram para os grandes centros urbanos.
De acordo com Rosa Carvalho, coordenadora do Grupo de Rabecas de Bragança, atualmente existem apenas dois grupos de rabeca no município: a Orquestra de Rabeca Sons do Caeté e o Grupo Rabeca de Bragança. "O diferencial dos grupos é que o primeiro já sofreu algumas modificações, como a introdução de novos instrumentos. E o grupo de Rabecas ainda cultiva sua origem desde a criação", explica Rosa Carvalho.

Benedito Alberto Padilha Ribeiro ou Mestre Padilha – Natural de Bragança, Seu Padilha, desde jovem, toca rabeca, tambor, acompanha o grupo da Marujada, além de se dedicar à cultura bragantina há mais de 20 anos. Durante este período, participa e organiza a Festividade da Irmandade da Marujada de São Benedito de Bragança. Atualmente, preside a Diretoria Administrativa da Associação Cultural Musical Bragantina, fundada em 2007 e registrada em março de 2008. Seu Padilha ainda diz que a proposta do Grupo é promover oficinas para jovens interessados neste gênero musical, preservando a memória do instrumento cultural.

Manoel da Costa Raiol - Outro componente do Grupo Rabeca de Bragança que merece destaque é seu Manoel Raiol, filho de Seu Zé Brito, pioneiro da rabeca em Bragança. Seu Manoel já tocou rabeca por diversas festas populares como os cordões de pássaros, carnavais, festa de dança. Sua primeira rabeca foi confeccionada por seu pai, Mestre Brito. "Meu pai se propôs ao desafio de fabricar pela primeira vez uma rabeca e não deu certo". O instrumento foi confeccionado com uma matéria-prima chamada "caranã", árvore muito comum em nossa região. Viu que sua experiência não deu certo e passou desde então a fabricar a rabeca com madeira de "cedro", material leve e resistente, ideal para a fabricação deste instrumento e que também é muito encontrada nas proximidades.
Convidado por Júnior Soares, compositor e intérprete de músicas regionais, a realizar oficinas de confecção de rabecas aos jovens de Bragança "Com a morte de meu pai, há três anos, passei a fabricar a Rabeca da mesma forma que ele, utilizando técnicas primitivas, mais caseiras", revelou Manoel.
A arte da fabricação da rabeca é ensinada por Manoel a jovens e adolescentes de Bragança, como forma de preservar a tradição. Na oficina, os participantes aprendem sobre marcenaria, familiaridade com ferramentas, noções de segurança, técnicas específicas relacionadas ao instrumento; também são discutidos temas relacionados às tradições culturais e populares do instrumento rabeca, o que o distingue do violino e debate sobre a questão ambiental, a partir da origem da matéria prima – madeira – e as necessidades de sua preservação. Como se trata de uma turma de jovens, um tema recorrente tem sido a questão da violência e falta de perspectiva de emprego e renda. (Texto: acom Secult/Agência de Notícias Gerais/Foto: Elza Lima)

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