sexta-feira, 25 de março de 2011

OPINIÃO E o cinema esvaindo-se... Será?

Quem mora em Belém e aprecia ir a um bom cineminha, sabe quantas memórias boas os paraenses guardam dos cinemas Olympia e Cine Nazaré. Salas amplas, aconchegantes, humildes e ao mesmo tempo com um jeito singular de demonstrar a sétima arte. É triste dizer que o Cine Nazaré deixou de fazer parte do time cinematográfico de Belém, uma vez que no lugar do mesmo há, agora, as “Lojas Americanas”. Tal fato deixou-me extremamente irritada na época, devido à mudança brusca, repentina, para uma loja de departamento, ou seja, um contraste nada feliz. A infelicidade veio-me à mente também porque surgiu uma placa no local informando aos interessados que o nosso querido cineminha passaria por uma “reforma”, quando na verdade houve o negócio de venda. Senti-me enganada, pois, infelizmente, não tive a oportunidade de despedir-me adequadamente daquele lugar. O encantamento por outras salas de cinema fez com que eu o trocasse, em restritas ocasiões, pelo Cine Castanheira – o qual também não existe mais – ou, ainda, freqüentasse as salas daquele que era chamado de Cinemas Um e Dois, atrás do Shopping Iguatemi – chamado, atualmente, de Pátio Belém. Nossa! Quanta transformação! Perceberam como a mutação cultural é? E a minha saudade por esses “cines” continuou se propagando, principalmente quando soube, há pouco tempo, que este fenômeno tem ocorrido em outros Estados do país. O Cine "Belas Artes", em São Paulo, por exemplo, fechou suas portas em janeiro deste ano por falta de verba para pôr em prática suas atividades. Um cinema com 68 anos, com uma viva história, desliga o projetor por não haver mais cinéfilos suficientes... E pensar que nosso Cinema Olímpia ainda está em atividade desde 1912. Vale ressaltar que o mesmo ainda funciona como projeto cultural. Diante de tudo isso, sou levada a pensar: o cinema está se esvaindo? A comodidade das locadoras – resistentes, por sinal – junto à facilidade dos downloads substituirá àss velhas poltronas, a expectativa, a vibração, o riso de uma comunidade cinéfila, em uníssono, numa sala retangular? Exagero ou não isto é um fenômeno que está ocorrendo. Todavia, com toda sinceridade, tem certas tradições que não se acabam facilmente. As salas de cinema marcaram a história sócio-econômica de Belém, do país e do mundo. Portanto, o que realmente pode acontecer é as salas transformarem-se, quem sabe, em uma outra dimensão cultural, com mais ação, movimento, interatividade para com o telespectador, uma vez que os recursos tecnológicos são múltiplos: animação, 3D, som digital, poltronas móveis, etc. Além disso, os preços para tal apreciação tecnológica não é muito acessível a uma boa parte da população, por isso também o afastamento. Então o silêncio de Chaplin; os pés saltitantes de Fred Astaire; o suspense de Hitchcock e o doce romance de O Vento Levou ficarão imortalizados dentre os longas-metragens, para identificar ao longo da história cultural, tanto um comportamento humano mais tranqüilo e paciente para ver e ouvir belas histórias quanto para, quem sabe, a partir de uma boa orientação dos mais experientes e vividos nos cinemas, mostrar que o “novo” nada seria sem o “velho”. Isto é a grande herança sábia dos anciãos. Alimentemos, portanto, a memória cultural e as novas possibilidades da arte, da ciência, pois como dizia Louis Armstrong - ao fazer aquilo que todos acreditavam ser impossível: pisar na Lua - “um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade”. Basta isto para percebermos o quão grande o cinema amplia os nossos horizontes, tanto que, graças à imaginação fértil de muitos artistas e roteiristas, o homem supera, todos os dias, os seus limites e os expõem de sobremaneira em uma tela gigante com áudio e efeitos 30 anos antes inimagináveis.
(Colaboração de Denise Mychely de Oliveira Monteiro, professora de Redação e Literatura)

4 comentários:

Marcelo disse...

Parabéns meu amor, lindo texto! Espero poder curtir a sétima arte por muito tempo com você.
Te amo!

Camila Travassos disse...

Eu, que não sou tão fiel e tão conhecedora da sétima arte, fiquei tristemente comovida com o fim do cine Nazaré, do cinema I e II e com o quase fim do Olympia. Imagine os cinéfilos de plantão!

"O 'novo' nada seria sem o 'velho'". Essa é a questão.

Se hoje temos, talvez, quase 20 salas de cinema nos shoppings de Belém - incluindo nisso as salas de exibição em 3D -, nas quais pessoas se aglomeram em filas e mais filas para participarem de estreias à meia-noite, é porque antes, aqui na cidade, criou-se a cultura de ir ao cinema. E esse era o Olympia, nos seus tempos áureos.

Que ele, como quase 100 anos, ainda resista.

(:

Rafaele Lima disse...

Isso aí, Denise! Texto e assunto instigantes! Esse é o resultado, a longo prazo, da sofisticação (cada vez mais aguda e inevitável) dos meios de comunicação e da "evolução" da tecnologia, de um modo geral... Mas reflitamos... Mesmo com a introdução do cinema (e com todo o frisson que a imagem provocou), o livro não foi abandonado de todo, embora esteja cada vez mais circunscrito a pequenos grupos que se interessam por arte (falo dos bons livros, e não do mass media!).
Vamos torcer (e fazer a nossa parte) para que o seres humanos não abandonem os bons mecanismos de manifestação de suas inquietações, sem grandes contaminações pelo mercado e pelo consumo!
Grande beijo e parabéns pelo texto de qualidade!

QLIP TV disse...

Eu sempre assistia no Cine Nazaré. Nos tempos em que ele estava em "reformas" eu sempre queria saber quando ele iria voltar.