terça-feira, 2 de junho de 2009

Uma estrela se apaga: Walter Bandeira deixa o palco rumo à eternidade











Da mesma maneira como surgiu, de mansinho, mas igualmente envolvente e de forma marcante, que sempre mexeu com quantos tiveram oportunidade de escutá-la, uma das melhores vozes do Brasil se calou. Vítima de uma traiçoeira e letal doença (câncer) que se instalou em seu organismo e com sua colaboração o tirou deste plano, o professor de dicção, ator, artista plástico, cantor, compositor, locutor e intérprete Walter Bandeira (Gonçalves) mais uma vez emocionou e saiu de cena, desta feita para sempre, deixando uma legião de amigos, admiradores e seguidores envolta em emoções, como sempre atingida em seus sentimentos, embora com o amargo sabor de uma despedida sem volta, naturalmente regada a lágrimas de dor e envolta em indisfarçável tristeza pela constatação de uma separação definitiva. Sem dúvida alguma, um corte profundo numa relação quase sempre merecedora de aplausos de reconhecimento, de admiração, de veneração, de amor. Dono de uma personalidade forte, embora em alguns momentos doce e sensível como uma flor, Walter Bandeira trilhou um caminho de muita luz, não apenas dos holofotes e das câmeras que o levaram á condição inquestionável de personalidade no mundo artístico, mas também de uma aura que o transformou em um grande pai sem ter contribuído para o nascimento biológico de nenhum dos que ajudou a criar e a formar (sua irmã caçula, sua sobrinha-filha, sua filha adotiva, seu neto e sua sobrinha-neta) sempre defendendo os universais princípios da igualdade, da honestidade e liberdade. Polêmico, contestador, vibrante e autêntico, sempre se manteve preso ao solo que o viu nascer, crescer e galgar o estrelato, recusando as inúmeras tentativas de levarem-no para o eixo mais evidente do cenário musical brasileiro e internacional. Dono de grande talento e de uma voz que encantou tanto a corte, como o povo, Walter Bandeira não se curvou diante da prepotência dos que se julgam superiores apenas pelo poder econômico ou posições políticas e, por isso, partiu desse planeta sem ostentar riqueza ou deter poder, a não ser o que se materializou nas conquistas de pessoas que o amaram e o fizeram lutar para não se trair ou vender a única coisa que, como sempre fez questão de deixar claro, o tornava rico: sua autenticidade de pensamento. O velório de seu corpo não poderia ter sido em lugar mais apropriado: as dependências do Teatro Waldemar Henrique, na Praça da República, próximo do Theatro da Paz e do Bar do Parque, dois lugares onde Walter Bandeira transitou como se estivesse em sua própria casa. No mesmo palco onde reuniu membros de todas as tribos, quer para ovacionar suas performances, ou mesmo para, engajado em luta das minorias, reivindicar os direitos da classe à qual pertenceu, o venerado artista paraense recebeu as últimas homenagens e, mais uma vez, foi o centro das atenções. Em meio a várias frases ou mesmo comentários captados entre os diversos grupos que ali se formaram, algumas se destacam pela excentricidade ou autenticidade. Houve quem estabelecesse relação entre a perda pela capital paraense da oportunidade de sediar, mesmo como subsede de jogos da Copa do Mundo de Futebol, com o desaparecimento do mais conhecido e reconhecido cantor do Estado. Assim como, também, de forma mais sensível e emotiva manifestações dos que não esconderam a condição de órfãos de alguém que, rompendo barreiras sociais, não hesitou em se expor ao defender suas verdadeiras características e opções de vida. Foi possível ver reunidos, artistas, intelectuais, políticos, amigos, anônimos e familiares de uma pessoa que sempre brilhou, numa incontestável demonstração que, da mesma maneira como a visão de estrelas cadentes, uma única certeza se fazia presente nestes momentos de adeus: a estrela maior da constelação artística amazônida rumava para a eternidade. (Agência de Notícias Gerais)

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